O MOIRO – Poema de Manuel Sardenha


[Eiqui queda mais un poema de Manuel Sardenha, salido ne l jornal
A Folha, de João Penha, n.º 15, pág. 116, de 1869. Ye um poema dedicado a Gonçalves Crespo, poeta nacido ne l Brasil, mas que bibiu an Pertual zde mui cedo. Ne l cuntesto de la obra de Manuel Sardenha puode dezir-se que ye un poema de amor de sabor romântico, scuola lhiterária adonde debe de poner-se ua buona parte de la sue porduçon poética.
AF]

 .

O MOIRO

A G. Crespo

Um dia passava um mendigo poento
Defronte dos paços d’um rico senhor,
E alli, dedilhando mavioso instrumento,
Soltava dorido estas queixas de amor:

«Oh palida virgem, tão meiga e tão bella!
Não furtes á brisa teu collo gentil,
Depõe os bordados, assoma á janella,
Que geme d’amor o meu triste arrabil!

«Eu venho de Códova, em sancto romagem,
Em busca da amante que est’alma prendeu;
Eu venho mendigo, sem rumo nem pagem,
Por vel-a, e…» um suspiro nas cordas gemeu.

»Eu sou o que ha un anno cahiu prisioneiro
Dos olhos mais lindos, mais negros que vi!
Morena, morena, tem dó do romeiro,
Tem pena do triste que morre por ti.»

E a languida virgem, que manso apparece,
E escuta em delicias o doce arrabil,
Um grito soltando, feliz reconhece
No falso mendigo o seu moiro gentil.

E disse-lhe: «Sóbe, jamais a pousada
Negamos a pobres…» e o pobre subiu…;
Do resto do conto não reza a ballada,
Nem falla do leito em que o moiro dormiu

Manuel Sardenha

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