2.ª Carta de Manuel Sardinha a José Leite de Vasconcelos

[Esta ye la mais amportante carta screbida por Manuel Sardina. Dá eideia de star ancumpleta, mas fui assi que la achemos ne l Museu Arqueológico de Lisboua, ne l spólio de José Leite de Vasconcelos. Dá-mos anformaçones amportantíssimas subre la sue bida, la sue obra i las sues eideias. Sien esta carta possiblemente nun saberiemos l eissencial subre l abade samartineiro. Ye nesta carta que mos apersenta l sou pseudónimo de Manuol Sardenha, que nessa altura yá haberá deixado de ousar. Mas deixa-mos ls comentairosa la carta para outra altura.

Nun ten la era an que fui screbida, mas há de haber sido pul ampeço de 1885 ou fins de 1884.

Amadeu Ferreira]

.

.

Um favor, meu am.º [amigo] Oh! Mandae-me copia da poesia In dolore e d’outra que não sei como se intitula, mas que sei termina assim: Oh! Não me tentes, não me tentes, Julia (ou filha?), que me desgraças, que me perdes, flor!

Queria corrigi-las e, em summa, tenho saudades, muitas saudades, d’essas terras filhas da minh’alma. Fazeis-me isso, mas já? O Joaquim d’Araujo, a quem devo muitos favores e uma grande desfeita, que do coração lhe perdôo, vos poderá dizer onde elas estão encantadas. Um abraço ao ilustre Penafidelense, no caso de elle o querer! acceitar fraternalmente.

Sim, hei de escrever ainda algum verso em mirandez, caso me seja possivel.

Ainda não escrevi ao am.º [amigo] a que vos referis: o vosso desejo será opportunamente satisfeito.

Não vos mortifiqueis a occupar-vos do meu obscuro nome e da minha triste vida. Se fallardes nisso, que seja rapidamente

O s entre vogaes, aqui nestes sitios, não se ponuncia como o z; mas sim como os minhotos em José.

O que vos aprouver transcrever escripto por mim, oh! Que seja também por mim revisto alguns dias antes

Como o outro anno quero ter-vos alguns dias na minha massadora comp.ª [companhia] e neste vosso casebre, sim, am.º [amigo]?

Anthero de Quental! E como está elle de saúde? Melhorou de todo, ou só alguma cousa? O seu delicadissimo padecim.tº [padecimento] tem-me dado mil cuidados neste mísero rincão, se tem! …

O Anthero, o Anthero: eis – ahi um novo Christo! Beijae-lhe a mão por mim e que elle me abençôe na pessoa do Leite de Vasconcellos.

E a proposito:  ahi vão  uns versos meus, que  vos talvez nunca lereis!

Disse-vos que terei composto apenas 40 poesias. Revolucionarias serão 40 só; mas lyricas hei composto mais de 400 que se me perderam. Uma ou outra d’algum merecim.tº, depois d’algumas leves correcções querme parecer. Escrevei, e adeus.

Abraça-vos Manuel Joaq.m Sardinha.

Ha 15 annos consecutivos que vivo neste rincão, isto, é desde 1869 até hoje.

Estive os 5 anteriores depois de recomendado, fora de Trás-os-Montes: o 1º em Coimbra, e os 4 restantes na Roma portuguesa.

Sim quizera que vós, a occupardes-vos de mim, fizesseis saber que já deixei o nome de M.el [Manuel] Sardenha com que assignei alguns escriptos,  e que hoje estou já morto pª [para] as lettras,  voltando a usar em tudo, sempre que seja preciso, do meu modesto nome legal de Manuel Joaquim Sardinha.

This entry was posted in Uncategorized. Bookmark the permalink.

Deixar un comentairo