LUZ

LUZ

[Este poema fui publicado ne l jornal Muzeu Illustrado an 1880. Yá an 1869 habie publicado an A Folha n.º 10, p. 76, um poema cul mesmo títalo i yá eiqui publicado neste blogue. L purmeiro destes dous sonetos corresponde a esse soneto mais antigo, mas cun mui antressantes bariantes, que merécen ser studadas. Eiqui quédan mais estes dous sonetos, ne l die an que se comemóran ls cien anhos de la sue muorte, puis ye un die an que cumben falar de Lhuç i de amor.]


I

Que apparição, meu Deus! Resplandecente

D’ethérea formosura e embebecida

Aos Aos pés da santa Virgem dolorida,

Chorava no seu extase a innocente!

 

E eu, macerado monge penitente,

Que ao vêr tanta belleza alli rendida,

M’esqueci da oração!… Na flor da vida,

Oh! como a carne é fraca, mãe clemente!

 

Perdão, por vosso filho n’uma cruz,

Se de vós apartei, Virgem das dores!

Meus olhos tristes e na bella os puz.

 

Mas ella prometteu-me altos favores

No philtro d’um olhar!… Perdão; mas Luz

Acabava d’abrir-me um ceu de amores!

 

 

II

Todos, vendo-a passar, a indigitavam

Como ingenua e mimosa poetiza;

E das lettras gentil sacerdotiza

O gesto e a pallidez a denunciavam.

 

Uma noute (meu Deus, como voavam

No seu jardim as horas!), nva Heloisa,

Ella a abraçar-me diz: «Se martyrisa

Este amor?!… Ah!…» E os prantos a afogavam;

 

Mas oh! que infausta a minha estrella! UM dia

Fui achal-a no Carmo: estava então

Radiante de luxo e de alegria.

 

Comprehendi logo tudo. Oh! maldição!

N’esse instante a vestal da Poesia

Desposava o farçola d’um barão!

 

Miranda do Douro, 1880

Manuel Sardenha

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Centenario

De riba corrie un airico fresco nas cereijeiras de gromo a espreitar l calor dua primabera de poucas horas, nas abrigadas, ambaixo ls cabanhales i antre ramalhadas sumidas de braseiros de eimbeirno, cardadores, dobadeiras, filadeiras fazien meia i camisolas cumpassiadas pul malhar seco de l lhino nos puiales de cantarie. Garotos adebertien-se cun espingardas de canelheiro atirando balas de bolas de tascos finos salidos de ls manhuços espadeirarados i apuis prontos a estrigar. Pul termo, ls más delantreiros ampeçában la relba, guiar ua augueira pal cerrado era fertume a la yerba, lhebantar un esbarrulhado tamien l calhaba al boieiro, apanhar bides era la segada de ls garotos anquanto na Negra, na Beiga i na Faceira l restrolho berde de la ferrean quedaba quelor de tierra rebolcada nua purmeira buolta para batatas.
Na jinela, l manjarico nun rejistira a la niebe cisqueira que na eimbernia tanta beç le remolinou al tuoro i colgaba-se cumo tabaco seco espindurado nas bordas de l culo de cántaro, baso recortado a turquesa no mesmo die que se l rachou l cuorpo na esquina de la fuonte, inda Rosa mal acarreaba meia barrila. L sol baixo, antraba a golfiadas remolinando puolo cun oulor a tinta i papeles amontonados fazie meses an riba de la pequeinha mesa arresquinada an zlhado l parapeito de la bidraça. La cama, feita de branco i colcha tenhida a çumacre, acunchegaba l cuorpo delorido i marimundo de Manuol, que an sou sano juízo anquemandaba la alma a Nuosso Senhor Jasus Cristo de las manos de l padre Lházaro mandado chamar a priessa para del recebir la cruç i ls santos ólios. Bai-se zlindo la malha de la bida sien lhinha que atame l uoco que crece an sou lhugar.
Yá se sínten caras a la Ramalha las esquilas de las boiadas, l crabo de ls lhumicos de anzonas feitos de tascos quedando cinza, ls fusos no çcanso i la manta de fumo cun cheiro a urze cubrindo todo l balhe quando sona ua badalhada na campana grande, outra i más outra, trés al todo, sigundadas por más trés i outras trés, cumpassiadas nun ritmo de finados. Hai delores acabadas, siléncios rotos, manantiales de lhágrimas, segredos de puorta an puorta, poucas falas. Apuis de coincer meio Pertual, bispos, padres, talbeç menistros, ambaixadores i poetas, quedeste toda ua bida nas bordas de l ribeiro de Ourrieta l Poço, perdido por amores talbeç, por fartura quien sabe, ou por ambas rezones, quien l saberá? cierto ye que na punta de baixo de Cabeço l Xeixo está la tierra que te ha de acunchegar i l pobo que nun te çquecerá.
San Martino de Angueira, 04 de Abril de 1911

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Data do Centenário

Conhecida a data de nascimento de Manuel Sardenha – Manuol Sardina – Abade Manuel Joaquim Sardinha, faltava saber a data exacta da sua morte no ano de 1911.
Segundo a tradição oral da família, pela voz do Sr. Abel Falcão, de Serapicos, neto de Manuel Sardinha, o falecimento terá sido a 04 de Abril, data sempre recordada por sua mãe, Rosa da Purificação Sardinha.
A confirmação ou desmentido desta data carecia de prova documental, o que, na falta de registos escritos, o único recurso seriam eventuais inscrições na pedra tumular em granito com incrustações a mármore, pedra tumular que após obras de alargamento do cemitério de São Martinho de Angueira, foi retirada do local onde sempre permanecera (no canto noroeste do cemitério) e reutilizada nos novos muros interiores da rampa de entrada. Como se pode verificar pelas fotografias, apenas resta a cruz em mármore incrustado na laje de granito utilizada na campa rasa de Manuel Joaquim Sardinha.
Assim, e salvo prova documental em contrário, devemos fazer fé na data de 04 de Abril de 1911 como sendo a data da sua morte, o que equivale a dizer que completará o centenário no próximo dia quatro.


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Poeta, Abade, Presidente i Banqueiro

[Anquanto Presidente de la Junta de Freguesie de San Martino, Manuol Sardina parece tener sido meio “banqueiro” se furmos a la anterpretaçon a la letra de la ata que abaixo se pon. Neilha son lomeados 30 (trinta) debedores que solo an juros soman 184$925 (ciento i uitenta i cuatro mil, nuobecientos i binte cinco reis), ou seia, 92,24% de un € ouro, l que naquel tiempo era ua pequeinha fertuna. Será essa ua de las rezones para nun agradar a dalguns cunterráneos? Cumo diç l dito dezideiro: “se quieres perder un amigo ampresta-le denheiro”.]
Acta da sessão ordinária de 02 de Agosto de 1908
Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil nove centos e oito: – aos dois dias do mez d’Agosto do referido anno no lugar destinado as reuniões da junta da Parochia da freguesia de S. Martinho d’Angueira, concelho de Miranda do Douro, onde se achava o Rev.mo Abbade Manuel Joaquim Sardinha, Presidente da junta, o segundo vogal effectivo João Alves e o primeiro substituto por impedimento por doença do primeiro vogal effectivo João Baptista Fernandes, Francisco Christal, depois d’assinada e approvada a acta anterior, pelo Presidente foi declarada aberta a presente sessão. Pelo Presidente foram … à junta as grandes difficuldades finenceiras com que esta corporação lucta devido ao grande atrazo que está a cobrança das dívidas activas, o que tem originado grandes difficuldades em arranjar quem forneça o azeite para a lampada do Santíssimo e cera para a Egreja Parochial, tendo-lhe ido supprindo estas necessidades por o digno Presidente se responsabilizar pessoalmente pelo pagamento das despezas feitas, o que acarreta prejuízo para o Presidente e menosprezo para a corporação.em face de tam tristes e urgentes necessidades a junta resolveu, por unanimidade lavrar editaes por onde se fizesse publico que o cofre parochial está aberto para cobrança voluntaria de dez do actual a trinta de Setembro proximo, finda a qual, a junta resolveu, por unanimidade, solicitar autorização à estação tutelar competente para poder demandar judicialmente todos os devedores que não satisfaçam seus débitos no referido prazo sendo de inadiável necessidade demandá-los não só pelos juros vencidos, mas também pelo respectivo capital para ser collocado um … da mais escrupulosa consciencia para garantia da boa administração e utilidade d’esta freguesia. Os indivíduos devedores à junta, que devam ser demandados no caso provavel de não pagarem voluntariamente sam: 1º – Herdeiros de Albino António Geraldes de Macedo, de Malhadas, pela quantia de 2$700M provenientes de juro de 50% do capital de 13$500M; 2.º – António Augusto de Miranda Raposo, de Miranda do Douro, pela quantia de 37&550 provenientes do juro de capital de 31$000M; 3.º – Antonio Affonso Garrido de S. Martinho, pela quantia de 3$800, provenientes do juro de capital de 54$000M; 4.º – Francisco BIlber de S. Martinho, pela quantia de 6$000M, provenientes do juro de capital de 20$000M; 5.º – Francisco Antão, da Póvoa pela quantia de 4$775M provenientes do juro de capital de 13$500M; 6.º – Francisco Pires Miguel, de S. Martinho, pela quantia de 2$700M, provenientes de juros de capital de 18$000M; 7.º – Francisco João Palonco, de S. Martinho, pela quantia de 3$000M, provenientes dos juros de capital de 30$000M; 8.º – Francisco Alves Chuca, de S. Martinho, pela quantia de 6$480M, provenientes de juros de capital de 31$200M; 9.º – João António Geraldes de Macedo, de Miranda, pela quantia de 9$100M, provenientes de juros do capital de 34$000M; 10.º – João José da Cruz, de S. Martinho, pela quantia de 4$500M provenientes de juros de capital de 18$000M; 11.º – herdeiros de Matheus Lourenço, de Miranda do Douro, pela quantia de 2$100, provenientes do juro de capital de 20$000M; 12.º – Paulo José Miguel, de Ifanes, pela quantia de 2$100M, provenientes de juros do capital de 12$000M; 13.º – Rosa Meirinhos, pela quantia de 3$000M, provenientes de juros do capital de 10$000M; 14.º – Francisco Antonio Meirinhos, de S. Martinho, pela quantia de 6$750M, provenientes de juro do capital de 45$000M; 15.º – Manuel Alves Carvalho, de S. Martinho, pela quantia de 11$000, provenientes de juro do capital de 60$000M; 16.º – Francisco de Paula Martins, de S. Martinho, pela quantia de 3$000, provenientes de juro do capital de 15$000M; 17.º – Alexandre Meirinhos Sardinha, de S. Martinho, pela quantia de 10$750M, provenientes de juro do capital de 43$000M; 18.º – Manuel Machado Lavrador, de S. Martinho, pela quantia de 3$000M, provenientes de juro do capital de 10$000M; 19.º – Francisco Manuel Fernandes, de S. Martinho, pela quantia de 2$000M, provenientes de juros do capital de 10$000M; 20.º – João José Gonçalves, de S. Martinho, pela quantia de 3$375M, provenientes de juros do capital de 22&500M; 21.º – Manuel Ignacio Machado, de S. Martinho, pela quantia de 2$700M, provenientes do juro de capital de 13$500M; 22.º – Francisco José Fernandes, de S. Martinho, pela quantia de 8$895M, provenientes de juros do capital de 54$500M; 23.º – Domingos Meirinhos, de S. Martinho, pela quantia de 1$500M, provenientes de juros do capital de 10$000M; 24.º – Francisco Manuel Fernandes, de S. Martinho, pela quantia de 5$000M, provenientes de juros do capital de 40$000M; 25.º – José Francisco Parreira, de S. Martinho, pela quantia de 8$200M, provenientes da renda dos Linhares de Baixo; 26.º – herdeiros d’Albino Alves, de S. Martinho, pela quantia de 17$850M, provenientes d’alcance como mordomos de Santo António; 27.º – José Bento dos Santos Christal, de S. Martinho, pela quantia de 2$000M, provenientes de juros do capital de 20$000; 28.º – Alexandre Meirinhos (…) de S. Martinho, pela quantia de 3$300M, provenientes de rendas do lameiro das Almas; 29.º – João Baptista Rei, de S. Martinho, pela quantia de 5$800M, provenientes de rendas dos Linhares de Baixo; 30.º – Florindo José Gonçalves, de S. Martinho, pela quantia de 2$000M, provenientes de madeira de arrematou. Pelo Presidente foi ordenado ao secretarrio que outra deliberação extraisse copia, em duplicado, para ser enviada ao Exmo Snr Administrador deste Concelho para este zeloso magistrado a fazer chegar à estação tutelar para os devidos effeitos. Não havendo mais nada a deliberar deram por finda a presente sessão que vai ser assignada por toda a junta e por mim, Affonso Maria Capellas, secretário que esta escrevi.
Foi presente o regedor da Parochia
O presidente, Manuel Joaquim Sardinha
O vogal, João Alves
O Leito(?), Francisco Cristal
O secretario, Affonso Maria Capella

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Les rois s’en vont

[Este ye, possiblemente, l mais notable poema de Manuel Sardenha, mui eilogiado na carta de Antero de Quental yá eiqui publicada. Saliu an A Folha n.º 18 (1869), sendo dedicado a João Penha [1838 -1919], diretor dessa revista lhiteraira. Ls bersos son subre la caída de Isabel II, de Bourbon, de l trono de Spanha.

A.F.]

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(A João Penha)

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Isabel de Bourbon! Que é d’esses dias

Da tua immensa gloria? que é do solio,

D’esse rútilo solio, onde sorrias,

Julgando-o teu eterno Capitolio?

Onde essas noites de prazer e orgias,

De magicos festins? e o santo oleo

Com que das impurezas, doce e calma,

Tu pensavas lavar o corpo e a alma?…

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Com pasmo o velho mundo e o mundo novo

Viram tremer… cair tua grandeza!

Hoje és proscrita d’esse mesmo povo

Que ha pouco te adorou, gentil princesa!

A Hespanha não tolera um só renôvo

Do tronco dos Bourbons, porque os despreza.

Em quanto for lembrado um sacrilegio

Não rehaverão Bourbons o manto regio!

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Recordas-te, Isabel, do fatal dia

Em que, sem alma, arcabuzar mandaste

Uns míseros mancebos? da gonia,

Viuvezes e orfandades que causaste?

E á noite o que fizeste? oração pia

Pelas almas das victimas?… choraste?

Não! – déste um baile, a saturnal antiga,

Sobre a lousa que os martyres abriga!

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Assim te abjurgam livres castelhanos,

Assim os homens d’hoje; mas a história

Ha de rehabilitar, passados annos,

Em parte, creio eu, tua memoria;

Foi Claret, e Marfori, e uns vis tyrannos

Quem manchou em tua fronte o sol da gloria!

Eras fragil mulher na magestade:

A historia hade ter pois de ti piedade.

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Resigna-te, Isabel! – E esse embuçado

Perturbador dos povos que não pense

Em restaurar na Hespanha o cru reinado

Dos Bourbons e dos padres. – Já não vence

Dos reis nutantes o direito armado;

E a Idea marcha esplendida e convence!

Hoje proclamam-se os direitos do homem

E as barricadas os tyrannos somem!

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Barricada é o rugido bronco, ingente,

Do escravo remordendo a atrós cadeia!

Barricada é o reducto armipotente,

Onde reina a espingarda faita Idea!

É a ultima razão d’um povo crente,

Que o pendão tricolor hastear anceia!

Barricada é do Povo-soberano

Tribuna sacro-santa e Vaticano!

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O sol oriental das barricadas

Consagra e santifica os heroismos!

Ai das iniquidades coroadas!

Pois que estão nos tremendos paroxismos!…

As bastilhas baqueam derrocadas…

Os thronos collocados sobre abysmos…

E ha uma grande voz, que diz: «Sumi-vos,

Ao báratho descei, phantasmas vivos!»

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Manuel Sardenha

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3.ª Carta de Manuel Sardinha para José Leite de Vasconcelos

[Ye esta la treceira I última carta que coincemos de Manuel Sardina para José Leite de Vasconcelos. Ye ua carta screbida an mirandés, cun era de 31 de Março de 1885. Mais ua beç mos dá amportantes andicaçones subre la sue obra i subre la própia lhéngua mirandesa. Algues anotaciones subre la lhéngua son debida a ua traducion de l soneto de Camões Alma Minga Gentil…, que eiqui se deixará mais tarde.

AF]

Miu stimable amigo:

Scuolho de perferéncia ua ortografía aportuesada, declarando eiqui que la letra v sona siempre cumo l b, tal i qual cumo na lhéngua castilhana.

L mirandés, amigo, ten los adbérbios tanto, quanto i tan, ye berdade; reparai bien nun ten l correlatibo quan, donde se bei, que este antressante «dialecto» nin debe senó desprézio a los homes de la sabedoria naturales destes sítios, que anque lo sában cumo you, se guárdan bien de lo falar, falando-lo solo l pobo einorante, alhá eilhes uns cun outros, pus quando ténen que falar a outra gente que nun ye mirandesa i que fala grabe, isto ye, l portués,  antonces fala tamien an portués. Donde se bei, que l Dialecto mirandés ye ua lhéngua cumo que de cuntrabando; lhéngua que naide quier falar delantre de los outros que nun la sáben falar, cumo se l falar an mirandés fura ua acion mala. Porquei todo esto? Porque los portueses, que nun fálan este dialeto, quando lo óuben falar, fáien siempre la zomba a los pobres mirandeses, gente buona i de bergonha, cumo hai pouca. Ajuntai a esto, que los nuossos literatos anté bós i más dous ou trés professores de l curso Superior de Letras, nin al menos chegórun a saber, que tal Dialeto eisistie.

De todo esto ha resultado «fatalmente» stacionamento, que bós, l melhor amigo de los mirandeses, tanto lhastimais.

Mirai: asinalei l adbérbio fatalmente, para que béiades, que inda naide le dou fuoro de cidade an lhéngua mirandesa i notai tamien que nun ten l adjetibo gentil, comum a todas ou a quaije todas las lhénguas neo lhatinas, nin l verbo partir sinónimo de marchar ou salir dun punto para outro nin outras muitas palabras debie tener!.

Tan despreziado cumo está esta anfeliç lhéngua, solo las tradicionales capas d’honras, gorras i calçones de los mirandeses. Honra puis a los spanholes, que siempre han tenido la maior beneracion por los bários «questumes» de sues porbíncias i comarcas!

L pensar nesto, bun amigo, fai-me mal, muito mal; por esso bos digo adius, anté… nin you sei quando.

San Martino d’Angueira, 31 de márcio de 1885.

Manuol Sardina.

P.S. Ainda não mandei o vosso excellente livro ao distincto official, vosso admirador, a quem o prometti. Ninguém me tem sabido dizer, mas ao certo, onde está destacado:  só me dizem q. [que] está destacado, mas onde, é que não me dizem;  e eu não queria que as Flores Mirandezas cahissem em mãos profanas.

Vamos; porq. [porquê] esse silencio a resp.tº [respeito] dum pedido que lhe fiz em quanto  a uns pobres versos meus?

M.el [Manuel] Sardinha

P.S. Devia passar a limpo essa pobre carta: não me sinto com animo p [para] isso. Ahi vai pois assim, faça della o que entender.

Sardinha

Saud.es [saudades] ao Branco de Castro e ao Dr. Alves da Veiga, e compan.rºs [companheiros], bem como em particular ao jovem Bruno.

Sard. ª [Sardinha]

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La perdiç i l Abade Sardina

La lhona que agora se publica eiqui, fui sacada  de biba boç a tie Brígeda -nieta de l Abade – no anho de 2010. Eilha dá ua muostra de Manuel Sardina i de la sue senseblidade cun ls animales. Talbeç que ls homes, ou dalguns deilhes, nun téngan la mesma oupenion, mas esso son outras cuontas.

Lhebantou-se cun las pitas naqueilha manhana de finales de San Juan para ir a rezar ua missa a Cicuiro, ua lhéuga bien andada que fazie a gusto ouserbando un touçon eiqui, los homes na outra galaza, l cuco buscando nial ou la quetobia a sbolaciar alto nos ceremoniales de acasalar.

Fui ua missa rezada de brebe que l tiempo nun andaba de feiçon a grandes demoras pus la yerba iba medrada i l pan meio amarielho. Se calha tamien la família de la almica rezada mal tenie denheiro pa la missa quanto más para dalgun oufício más demorado. Al nacer de l sol yá tornaba al para trás porque la criada i dues filhas habien de ir a alhumbrar la binha que tenie no Camino l Lhombo i el cumo buono patron ua mano inda le darie a las “salagres” mulhieres.

Para nun arrodiar muito, l desaiuno serie un carolo scadarçado de la meia fogaça que haberie de ser l almuorço, botou-se adreitos pulas Porqueiriças. Al passar ua parede, a meia barreira, sentiu bulhir a modos dun sbolaciar rouqueinho no meio de folharascas i fenascos. Quaije se assustou, parou i apurou las oureilhas para se anteirar de adonde benie mesmo aquel rugir. Antre uas queiruolas, yerba seca i uas bergontas de silba sanjoaneira reparou nun canheiro seguido adreitos a un nial de perdiç i a la antrada, anlhaçada, alhá staba l probe animalico quaije a dar las últimas por bias de l lhaço que la prendie. Bendo tamanho sufrir de la mai perdiç, agarrou-la, afrouxou l lhaço i de manos abiertas pensou cun sous botones:

– Dou-te la lhibardade i la bida, mas se calha quien te botou l lhaço tamien stá meio muorto de fame i al melhor tu perdiç serás la pouca chicha que alguien comerá até la segada! Tamien nun ye justo que tire la quemida a quien te lhaçou.

Mal nun habie pensado, mirou l animalico assustado, abriu las manos i ajudou-lo a ganhar un bolo cumo nunca habie botado an sue bida. Ato cuntino, metiu la mano no bolso de la batina i de l lhenço brumeilho que serbie de carteira sacou los dieç reis que habie ganho cun la missa rezada an Cicuiro, agachou-se, mirou l nial i de manos no lhaço inda preso a ua staca atou-los alhá i pensou que cun aquel denheirico l caçador poderie al menos mercar un toucino an Alcanhiças i atamar la fame a el i a los sous por más dalguns dies.

Até que la perdiç poderá anjeitar l nial – fai outro, pensou – mas cierto cierto ye que hai rezas que mátan fames.

cuonta salida deiqui

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2.ª Carta de Manuel Sardinha a José Leite de Vasconcelos

[Esta ye la mais amportante carta screbida por Manuel Sardina. Dá eideia de star ancumpleta, mas fui assi que la achemos ne l Museu Arqueológico de Lisboua, ne l spólio de José Leite de Vasconcelos. Dá-mos anformaçones amportantíssimas subre la sue bida, la sue obra i las sues eideias. Sien esta carta possiblemente nun saberiemos l eissencial subre l abade samartineiro. Ye nesta carta que mos apersenta l sou pseudónimo de Manuol Sardenha, que nessa altura yá haberá deixado de ousar. Mas deixa-mos ls comentairosa la carta para outra altura.

Nun ten la era an que fui screbida, mas há de haber sido pul ampeço de 1885 ou fins de 1884.

Amadeu Ferreira]

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Um favor, meu am.º [amigo] Oh! Mandae-me copia da poesia In dolore e d’outra que não sei como se intitula, mas que sei termina assim: Oh! Não me tentes, não me tentes, Julia (ou filha?), que me desgraças, que me perdes, flor!

Queria corrigi-las e, em summa, tenho saudades, muitas saudades, d’essas terras filhas da minh’alma. Fazeis-me isso, mas já? O Joaquim d’Araujo, a quem devo muitos favores e uma grande desfeita, que do coração lhe perdôo, vos poderá dizer onde elas estão encantadas. Um abraço ao ilustre Penafidelense, no caso de elle o querer! acceitar fraternalmente.

Sim, hei de escrever ainda algum verso em mirandez, caso me seja possivel.

Ainda não escrevi ao am.º [amigo] a que vos referis: o vosso desejo será opportunamente satisfeito.

Não vos mortifiqueis a occupar-vos do meu obscuro nome e da minha triste vida. Se fallardes nisso, que seja rapidamente

O s entre vogaes, aqui nestes sitios, não se ponuncia como o z; mas sim como os minhotos em José.

O que vos aprouver transcrever escripto por mim, oh! Que seja também por mim revisto alguns dias antes

Como o outro anno quero ter-vos alguns dias na minha massadora comp.ª [companhia] e neste vosso casebre, sim, am.º [amigo]?

Anthero de Quental! E como está elle de saúde? Melhorou de todo, ou só alguma cousa? O seu delicadissimo padecim.tº [padecimento] tem-me dado mil cuidados neste mísero rincão, se tem! …

O Anthero, o Anthero: eis – ahi um novo Christo! Beijae-lhe a mão por mim e que elle me abençôe na pessoa do Leite de Vasconcellos.

E a proposito:  ahi vão  uns versos meus, que  vos talvez nunca lereis!

Disse-vos que terei composto apenas 40 poesias. Revolucionarias serão 40 só; mas lyricas hei composto mais de 400 que se me perderam. Uma ou outra d’algum merecim.tº, depois d’algumas leves correcções querme parecer. Escrevei, e adeus.

Abraça-vos Manuel Joaq.m Sardinha.

Ha 15 annos consecutivos que vivo neste rincão, isto, é desde 1869 até hoje.

Estive os 5 anteriores depois de recomendado, fora de Trás-os-Montes: o 1º em Coimbra, e os 4 restantes na Roma portuguesa.

Sim quizera que vós, a occupardes-vos de mim, fizesseis saber que já deixei o nome de M.el [Manuel] Sardenha com que assignei alguns escriptos,  e que hoje estou já morto pª [para] as lettras,  voltando a usar em tudo, sempre que seja preciso, do meu modesto nome legal de Manuel Joaquim Sardinha.

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1ª carta an mirandés para José Leite de Vasconcelos

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Publicamos hoje u yá coincido cacho de carta que fui ambiada a José Leite de Vasconcelos i por este publicada an Flores Mirandesas, 1884. Dessa andicaçon podemos cuncluir que la carta haberá sido screbida por to l més de Setembre ou até meios d’Outubre desse anho, possiblemente apuis l ancuontro habido antre ls dous an casa de l cura de Samartino, ne ls purmeiros dies de Setembre de l mesmo anho [yá eiqui publiquemos la çcriçon de sse ancuontro feita por José Leite de Vasconcelos am  De Terra em Terra. Anfeliçmente parece que se perdiu l oureginal de la carta, yá que nun la achemos ne l spólio de José Leite de Vasconcelos junto culas outras cartas que fúrun screbidas por el.

Trata-se dun decumiento notable que hoije faç parte antegrante de la stória de la lhéngua mirandesa i de la sue lheteratura.

A.F.

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Cacho de carta para José Leite de Vasconcelos

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“… You mesmo, que sei bien este dialeto, solo agora, grácias al buosso bun eisemplo, i tamien al bun gusto que m’apeguestes, ampeço a descubrir filones d’ouro nesta antressantíssima lhéngua, que se ten cunserbado stacionária, cumo las gentes senzielhas que la fálan, Dius sabe quantos seclos haberá yá. I todo esto debemos nusoutros, los anfelizes mirandeses, a los gobernos paternales de l rei nuosso sinhor, que siempre nos há despreziado, i a los sábios nun menos paternales de las nuossas academias, que nin sequiera sáben de la eisisténcia de tal mina, esto ye, de tal lhéngua. Bergonha aterna a todos eilhes!…”

[Manuol Sardina]

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O MOIRO – Poema de Manuel Sardenha


[Eiqui queda mais un poema de Manuel Sardenha, salido ne l jornal
A Folha, de João Penha, n.º 15, pág. 116, de 1869. Ye um poema dedicado a Gonçalves Crespo, poeta nacido ne l Brasil, mas que bibiu an Pertual zde mui cedo. Ne l cuntesto de la obra de Manuel Sardenha puode dezir-se que ye un poema de amor de sabor romântico, scuola lhiterária adonde debe de poner-se ua buona parte de la sue porduçon poética.
AF]

 .

O MOIRO

A G. Crespo

Um dia passava um mendigo poento
Defronte dos paços d’um rico senhor,
E alli, dedilhando mavioso instrumento,
Soltava dorido estas queixas de amor:

«Oh palida virgem, tão meiga e tão bella!
Não furtes á brisa teu collo gentil,
Depõe os bordados, assoma á janella,
Que geme d’amor o meu triste arrabil!

«Eu venho de Códova, em sancto romagem,
Em busca da amante que est’alma prendeu;
Eu venho mendigo, sem rumo nem pagem,
Por vel-a, e…» um suspiro nas cordas gemeu.

»Eu sou o que ha un anno cahiu prisioneiro
Dos olhos mais lindos, mais negros que vi!
Morena, morena, tem dó do romeiro,
Tem pena do triste que morre por ti.»

E a languida virgem, que manso apparece,
E escuta em delicias o doce arrabil,
Um grito soltando, feliz reconhece
No falso mendigo o seu moiro gentil.

E disse-lhe: «Sóbe, jamais a pousada
Negamos a pobres…» e o pobre subiu…;
Do resto do conto não reza a ballada,
Nem falla do leito em que o moiro dormiu

Manuel Sardenha

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